domingo, 3 de setembro de 2023

Ausência

Como é possível abraçar o mundo

e sentir-se ausente?

Que fraqueza faz da vontade um pedaço

de nada roubado ao momento?

Quanto mais se abrem os olhos maior é o sonho.

O sonho é a verdade a acordar

sem alma que o possa confirmar.

Sendo a realidade conteúdo e continente

poderá o dedo apontar acertadamente?

Fazendo do som o princípio organizador da forma

o silêncio irá lembrar a matriz do nascimento e da morte.

sábado, 1 de abril de 2023

Agora

Agora, neste lugar junto à janela onde me fui sentar,

vejo:

a dor do prazer que terei de deixar,

a breve eternidade a questionar-me,

o sentido do sentido a provocar-me,

a leveza do coração e as ondas pesadas do mar,

a paz onde assenta o sentimento,

gotas de tempo no fio do meu alento,

concreto pensamento no substrato do vento,

o infrutífero acto quando a fome é um facto,

um pedaço de poesia, ofenda na mão vazia.

domingo, 5 de março de 2023

Lisboa poética

O rio, as ruas, as casas e o luar,

enfeitam a alma e fazem-nos sonhar.

A gente, fantasmas vivos de Lisboa,

pisam as sombras dos passos de Pessoa.

Ver, cheirar, saborear e ouvir,

vão pela brisa que o poeta inspira.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Num um espaço sem tela

Tirando as palavras de um espaço sem tela

Arrumam-se as ideias relativas no branco papel:

Tirar para pôr

       Pôr para ler

                Ler para sentir

                          Sentir para recordar

                                   Recordar para acordar

                                           Acordar para viver 

                                                    Viver para morrer

E da morte advém o nascimento, de onde se pode:

Tirar para pôr

       Pôr para ler

               Ler para sentir….

domingo, 8 de janeiro de 2023

Em Paris:

Quando me sinto ser como toda a gente,

vivo como se a realidade nada tivesse a ver com o presente.

Como a cenoura frente ao burro,

move-se-me o corpo pelo desejo formulado em pensamento.

Quanto mais puxo a carroça para a frente, mais gira a roda na mente;

movimento circular que me faz estagnar;

o ruído do homem é o ruído da fome.

Não sei o que conheço, mas sei que o conhecimento me conhece;

vivo no mar da omnisciência agarrado ao cais da ignorância e,

contudo, as vogais pelas quais vibra o meu nome

são por essência universais.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

O presente

Mas como posso eu definir o presente,

se é o resultado dos infinitos pólos do tempo?

No jogo da vida, ter a liberdade de escolher,

em nada significa que somos livres. 

Puxamos por uma carta no baralho confuso do acaso, 

sabendo à partida que “ter é perder”.

Mudamos de baralho, mas não mudamos de confusão, 

mudamos a táctica, 

mas puxamos com a mesma mão. 

segunda-feira, 4 de julho de 2022

No Agroal

Do murmúrio das águas nascem ondas sedentas de luz. No bailado dos reflexos sonoros o meu espírito abandonado em unissonância mergulha as suas raízes na natureza dessa infinita harmonia. A beleza de fora chama pela minha natureza de dentro e da união fala o criador.

Ausência

Como é possível abraçar o mundo e sentir-se ausente? Que fraqueza faz da vontade um pedaço de nada roubado ao momento? Quanto mais s...